Torna-se cada vez mais frequente o desabafo da grávida, que me procura, acerca do medo que sente, ao pensar em ser submetida a uma episiotomia no dia do parto.

A minha primeira preocupação é certificar-me se a grávida entende o que é realmente a episiotomia e quais são as verdadeiras preocupações que este tema lhe causa. Depois procuro entender o contexto ou a origem desse medo que sente pela episiotomia, para definir o nível de ansiedade da grávida e adequar as ferramentas necessárias ao controle da mesma.

O medo ou a preocupação que a possibilidade de ser submetida a uma episiotomia lhe causa, poderão estar ligados à técnica em si, à dor que poderão sentir, ou quais as repercussões no pós-parto, onde a cicatriz poderá comprometer a sua qualidade de vida, nomeadamente no regresso à vida sexual.

Na tentativa de solucionar este problema, a grávida ou a mulher que pretende engravidar, deverá procurar um profissional da área, especializado para a esclarecer e ensinar, eliminando este fator de stress na gravidez.

Como podem ler em quase todos os meus artigos, relacionados com a gravidez e parto, falo da importância em reduzir o stress na gravidez, para que este período seja de bem-estar, físico e emocional, da grávida, de perfeito desenvolvimento do bebé e da correta produção hormonal, fundamental para o do parto.  https://academiatelmacabral.pt/2021/02/25/ansiedade-na-gravidez-como-reduzir-esse-sentimento/

Quando preparo os casais grávidos, no Curso de Preparação Para O Parto, dou prioridade a dois grandes princípios :

O SABER – a aquisição de conhecimentos, pois só assim o casal poderá entender e aprender tudo aquilo que precisa, desde a teoria à prática, para os empoderar e criar as bases que reduzirão a ansiedade.

O ACREDITAR – o criarem um sistema de conexão consigo mesmos, entre ambos, e com o bebé, que encoraja o uso e a criação de afirmações positivas, possibilitando a criação de novas informações, novas respostas, que levarão a sua mente a afastar-se de medos, ou de expectativas negativas que provocam dor e desconforto.

O que é a episiotomia? onde é feita? porque é feita? com que frequência? se é ou não necessária? e como irá interferir na sua vida? Porque tem medo da episiotomia? São as questões principais que as mulheres colocam quando chegam a mim.

Procurar quem as oriente é ponto de partida para encontrar as respostas!

Enquanto enfermeira especialista em obstetrícia, e com base na minha experiência, acredito que a mulher poderá parir sem necessitar de uma episiotomia, basta que para isso ela entenda como evitar.

Em 2018, as orientações da OMS para os cuidados intraparto, para uma experiência de parto positiva, desaconselham o uso rotineiro de episiotomias em mulher em trabalho de parto vaginal, sem riscos associados, uma vez que não existem evidencias sobre a eficácia do uso das mesmas como rotina.https://www.who.int/reproductivehealth/publications/intrapartum-care-guidelines/en/

O que é a episiotomia?

É um procedimento cirúrgico que consiste em uma incisão no períneo, pretendendo facilitar a passagem do bebé.

pelve é composta pela cintura pélvica e pelo períneo, ela ustenta os órgãos dos sistemas urinário e reprodutivo.

O pavimento pélvico é um grupo de músculos e fascias que compõe a pelve.

Pelo seu lado o períneo é a região entre o ânus e a vagina e que compreende um conjunto de músculos, ligamentos e fáscias denominado também de assoalho pélvico. A sua função é a de suporte dos órgãos internos do funcionamento da eliminação quer da bexiga quer do intestino, da atividade sexual e do trabalho de parto.

Toda esta região sofre com o aumento de peso da mulher, durante a gravidez. O aumento do peso que o bebé a placenta e as membranas provocam nesta região. Com o evoluir da gravidez o peso e o volume aumentam sobre o períneo e, no momento da expulsão do bebé, este entra em máxima distensão.

Essa capacidade de distensão do períneo vai ser definida pela elasticidade dos músculos e pela sua resistência definida pela tensão dos músculos, reduzindo as lacerações e a necessidade de episiotomia.

Estes dois fatores, elasticidade e tensão, devem estar numa proporção que possibilite sustentar os órgãos durante a gravidez, ampliar e aumentar a passagem para o bebé no parto, sem lacerar ou romper. A presença de uma hormona muito importante durante a gravidez a RELAXINA, também torna esta região mais laxa.

É também importante perceber que se trabalharmos demasiado os músculos desta região tornando-os tensos e rígidos, durante o trabalho de parto não iremos obter os melhores resultados, pois não relaxam nem distendem, não facilitando a saída do bebé.

Demasiada tensão muscular do períneo, não ajudará o bebé a trocar o útero, onde viveu durante as últimas semanas, pelos braços da mãe.

Como para qualquer exercício que praticamos, também os exercícios para o períneo deverão ser feitos com consciência. Se assim não for não conseguimos entender o que fazer, o que contrair e o que descontrair.

Assim o meu primeiro foco de aprendizagem é aprender a ter CONSCIÊNCIA DO PERÍNEO.

A grávida ou o casal são convidados a tomarem consciência da região perineal, de como ela é importante quer na nossa vida diária, quer na gravidez e no parto, e como o domínio dessa musculatura, ela poderá controlar o trabalho de parto, facilitando a saída do bebé.

Quando eu digo “contraia o períneo”, esta ação não é tão intuitiva como se possa pensar. Algumas mulheres não sabem o que contrair, ou descontrair. É preciso saber onde ele está para poder utiliza-lo.

Utilizar o períneo, não é sinónimo apenas de saber como empurrar o bebé, (quando o parto é com a mãe em posição de deitada), é também sinónimo de ser capaz de o preparar durante a gravidez, para se moldar ao tamanho da cabeça do bebé durante o nascimento, não lacerando.

Através de exercícios específicos, combinados com a respiração consciente, criação do foco e relaxamento guiado.

O YOGA PARA GRÁVIDAS é também uma ótima forma de aprender a ter controle sobre o períneo.

https://academiatelmacabral.pt/services/yoga-na-gravidez/

Os EXERCÍCIOS DE KEGEL são também uma parte deste conjunto de técnicas. Pode ser usada de diversas formas, de pé, de cócoras, deitada, sentada, ou com a bola de pilatos. Dependendo do tipo de exercício faço sua gestão durante o período que dura o curso.

Os exercícios de Kegel, tornam o períneo mais firme e elástico, atuando na prevenção de lacerações durante o parto, e prevenindo a incontinência urinária.

Estes exercícios serão também planeados para serem feitos em casa 2 a 3 vezes ao dia.

Outra forma de evitar a episiotomia é através de um PARTO NATURAL, onde é permitida a verticalidade, a deambulação e a utilização de posições por parte da grávida, proporcionando-lhe alívio das dores e, por conseguinte, permitindo ao bebé progredir melhor.

Quando a mulher em trabalho de parto mantem-se deitada, por imposição dos profissionais de saúde, não há forma de se potenciar uma progressão correta e atempada do bebé. E se ele não progride o colo do útero não é corretamente estimulado para produzir as prostaglandinas que irão dilata-lo e extingui-lo.

A experiência de mulheres, cujo o trabalho de parto e o período expulsivo foram em posição de cócoras ou sentadas em banco de parto, fala-nos da não necessidade de episiotomia, onde apenas, por vezes, ocorre uma pequena laceração corrigida rápida e eficazmente com uma pequena sutura.

Outra técnica que a grávida poderá usar para evitar a episiotomia é a MASSAGEM PERINEAL.

A Massagem perineal é uma técnica, bastante procurada pelas grávidas, e que poderá contribuir para a elasticidade dos músculos desta região.

Esta técnica é simples e ajuda cada mulher a conhecer o seu corpo, e a perceber do que realmente precisa para preparar o seu períneo e o que esperar dele.

Quando a mulher dedica algum tempo a conhecer o local do seu corpo que tanta importância tem no seu bem-estar, na sua vida sexual e reprodutiva e no nascimento do seu bebé, ela passa a ser capaz agir, de controlar e de potenciar as suas competências no dia do parto.

Esta massagem poderá ser iniciada a partir das 34 semanas com uma frequência de 2 vezes ao dia cerca de 10 min de cada vez.

Na minha opinião a escolha do óleo para massajar é importante. Se não houver contraindicação pessoal, gosto de recomendar o óleo de coco, pois tem propriedades antibacteriana, antifúngicas, anti-inflamatória e potencia a hidratação da pele.

Para terminar, a ATITUDE EMOCIONAL E MENTAL POSITIVAS, da grávida, é de igual importância para enfrentar a gravidez e o parto de forma confiante, segura e feliz.

Quando a grávida acredita que é capaz, ela encontra equilíbrio. Quando a grávida se sente equilibrada o corpo relaxa, a produção hormonal mantem-se correta, e a experiência de parto torna-se uma experiência positiva.

Demasiada tensão muscular do períneo, não ajudará o bebé a trocar o útero, onde viveu durante as últimas semanas, pelos braços da mãe.

A grávida poderá ter acesso a estas técnicas no nosso Curso de Preparação para o Parto. O casal será capacitado a preparar o períneo, diminuindo o risco de laceração ou da necessidade de sofrerem episiotomia; não esquecendo o trabalho efetuado na redução do medo da episiotomia:

  • CONSCIÊNCIA DO PERÍNEO
  • EXERCÍCIOS DE KEGEL
  • PARTO NATURAL
  • MASSAGEM PERINEAL
  • ATITUDE EMOCIONAL E MENTAL POSITIVAS

Toda a mulher e todo o casal deverá encarar a gravidez e tudo o que a envolve, como uma das experiencias mais avassaladoras de suas vidas e que não tem que ser manchada por uma experiencia negativa.

Traçar um plano, o PLANO DE PARTO, irá potenciar-vos o sucesso e a felicidade, colocando a frase medo da episiotomia para um lugar muito distante da vossa gravidez.

Autor: Telma Cabral